Sezar Kosta

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM…

Pare.

Inspire devagar.

 

Nem tudo reluz à superfície —

há segredos que se recolhem ao silêncio,

onde a vida murmura

o que o barulho esconde.

 

Olhe para a árvore:

não apenas pelas folhas que dançam,

mas pelos segredos que enraíza no tempo,

pela sombra que oferece sem pedir retorno.

 

Veja a flor que se abre sozinha,

cumprindo seu destino sem plateia

— esplendor de quem sabe florescer no anonimato.

 

Há universos no minúsculo:

no traço do voo do pássaro,

na disciplina da formiga,

na lágrima que permanece segredo.

 

Quem aprende a ver com sossego

compreende:

o mundo não se revela a passos apressados.

O essencial habita as frestas,

os instantes antes do dia nascer,

os olhos que ainda guardam fé.

 

Sim, há dor.

Mas também existe um amor que persiste,

mesmo quando tudo se veste de cinza.

Ele germina — esperança tímida,

sem alarde, mas com raiz profunda.

 

Se fores terno com teus passos

e delicado com teu olhar,

perceberás:

Deus não se impõe em brados —

Ele floresce em silêncio.

 

E então, tua vida será um canto,

não de palcos,

mas de alma em oração:

 

um sussurro que se faz eternidade.