L. R. Ramos

O CAFÉ QUE A ARTE GUARDA

O gesto paira — é convite ou recuo?

Distâncias moldam o que não se alcança.
O café, talvez, seja palavra no escuro,
um sopro entre vozes que o tempo descansa.

Na imagem que pensa, um traço vacila,
sorriso contido, alquimia de estrada.
Não houve instante, mas houve a faísca,
feita de névoa, abismo e camada.

Não falta o ato, nem sobra o motivo,
falta o limiar onde tudo acontece:
entre o que vibra sem ter existido
e o que se entende sem que se tece.

Na arte que nasce do que não se vive,
há quem inspire e sequer perceba:
é verbo surgindo de exato silêncio,
e mesmo sem corpo, incendeia e delineia.

 

 

L. R. Ramos – fevereiro de 2025.