Alberto Neto

Sangue & Seiva

 

a luz do sol na crista do horizonte
(é vermelha)
a cor dos frutos apimentados
(é vermelha)
a bússola moral no teu peito
(é vermelha)

a água das tuas olheiras
a tua correnteza interna
a vergonha que se tem
é vermelha

é vermelha, essa bela
pele dos índios
marcada pelos trópicos

é vermelha, essa ferida
que queima
no olhar do cacique

é vermelha, essa bebida
que desce na
garganta do capitão

é vermelha, essa nota
no exame de
consciência moral

e é verdade que as chamas engoliram
campos de futebol,
casas de João de barro
aldeias indígenas
incontáveis indigentes

e o dia foi vermelho
igual ao salgado
do mar, mediterrâneo

e o dia ficou escuro
parecia ocorrer
o fim do mundo

e o dia foi de fogo
árvores foram fósforos
a chuva estava
lembrando petróleo

estamos cansados de meditar
escutando o fogo mastigar
as entranhas de madeira
de uma amazônia
tão mal amada, amarga
abusada pela humanidade
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Alberto Neto (_Autor Lírico)