Meti-me numa enrascada (Conto)
Já disse que quando era mais novo, gostava muito de lutar e de procurar confusão. Mas naquele dia não tinha procurado nem luta nem confusão.
Mas uma menina, filha de um vizinho que viviam lá atrás do lado esquerdo ao lado da casa de moagem lá do bairro, era a Deua, irmã do nosso amigo chamado Mano-Mano.
A menina foi lá em casa, no nosso quintal, mas eu não estava de modo nenhum feliz com a presença dela lá, e pedi pra ela que se retirasse e fosse embora dali. Mas ela se recusava a ir embora, e eu fiquei tão frustrado que vi ali perto ferros de um alicerce de um pilar, porque o nosso quintal ainda na época estava sendo construído e estavam fechando o quintal, de modo que eu puxei os ferros do alicerce, e quando os larguei, como ela estava logo a frente, todos os quatros ferros bateram em seu rosto. Logo começou a sangrar muito e eu entrei em pânico e fugi, pulando o muro da casa de banho do nosso quintal e saí do outro lado na rua de trás.
Quando a notícia foi espalhada, de que o Sivi tinha ferido a Deua, a irmã do Mano-Mano muita gente do bairro, querendo vingança, foi me procurar, porque eu tinha me metido em uma enrascada.
Não me sentindo seguro na rua lá de trás, voltei a pular de novo o muro, e estava eu de novo atrás da nossa casa, no nosso quintal. A multidão furiosa me procuravam como quando procuravam o profeta Daniel depois que ele não acatou a ordem de não orar a outros deuses senão somente ao rei, e quando estavam à procura de Cristo em Getsêmani… a multidão furiosa veio até a minha casa, entrou em nosso quintal e perguntou onde estava o Sivi!
Logo que ouvi os murmúrios e a raiva que sentiam, escondi-me ao lado da nossa fossa, onde podia me deitar e estava a poucos metros, dois ou três metros no máximo, da multidão furiosa querendo me pegar…
Até hoje não sei explicar como é que não conseguiram me avistar, porque não estava bem escondido, bastava que um se adiantasse de um ou dois metros que logo conseguiria me ver, e não sei o que iria acontecer naquela tarde.
Fiquei deitado ali com o coração na mão, quieto e tremendo, mas confiante de que tudo daria certo. Até que a multidão, não me achando, se dispersou um por um, igual como foi deixado a mulher no duvidoso perícope da adúltera, e saíram do nosso quintal, indo dar queixa aos meus pais, que se ocuparam da menina, pagando os curativos para que ela fosse cuidada pelos médicos. E eu só levei mais uma bronca da parte dos meus pais.
Anos depois, quando via a tal menina já crescida, a gente se falava, mas ela não se tornou realmente muito próxima de mim, mas seu irmão é meu amigo até o dia de hoje.
Tempo das maluquices e das grandes aventuras… naquele dia que me meti numa enrascada.