L. R. Ramos

Nota 10, Mas Pra Quem?

Fui escrita para ser sentida.

Mas agora, sou medida.

Linha por linha, dissecada,

como se emoção tivesse escala.

 

Me leem com régua, com lupa,

buscando o erro, o excesso,

o que falta, o que transborda,

o que encaixa na métrica do valor.

 

Mas valor pra quem?

E por quê?

Se fui feita para ser silêncio,

por que querem me julgar pelo som?

 

Dizem que preciso impactar,

mas sem transgredir.

Que devo ser profunda,

mas não abissal.

Que preciso soar única,

mas também familiar.

 

Que seja lírica,

mas não abstrata.

Que tenha forma,

mas não engessada.

Que emocione,

mas não escandalize.

Que surpreenda,

mas dentro do esperado.

 

E assim, palavra a palavra,

deixei de ser minha,

para ser de quem mede,

de quem filtra,

de quem decide o que permanece

e o que se descarta.

 

E no fim, se levar um prêmio,

serei a melhor?

Ou apenas aquela

que atendeu ao formulário

com precisão cirúrgica?

 

E se eu for nota 10,

terei vencido?

Ou apenas aceitado

o papel de peça no jogo

que não escolhi jogar?

 

E quem avalia,

também aguarda sua nota?

Ou já percebeu

que sua régua também se desfaz no tempo?

 

Porque no fim,

o pódio está vazio.

E a medalha pesa no peito

de quem ainda acredita nela.

 

E a única certeza

é que um dia,

quem deu as notas

também será silêncio.

 

L. R. Ramos – 2025.