Ele veio manso.
Sonso.
Como quem cuida, ouve, entende.
Como quem protege com palavras quentes
e silêncios que acalmam.
E eu?
Machucada, calejada.
A que reage antes de sentir.
Fecha portas antes mesmo de bater o vento.
Do tipo que, por medo de sangrar,
nem deixa o amor respirar por perto.
E aí chegou você —
como um raio brilhante,
iluminando tudo.
Com cartas, presentes, rosas…
e ah, as playlists perfeitas.
E as palavras?
Palavras que assustavam,
mas que, com o tempo,
aprendi a ouvir.
Você me ensinou a engolir promessas
até me ver grudada nelas.
E, sem perceber,
me vi apegada.
“Eu te amo…”
“Vamos nos casar…”
“Você é perfeita…”
“Eu quero você…”
Você foi devagar —
cirúrgico, eu diria.
Como quem estuda os muros
antes de aprender a derrubá-los com sorrisos.
Com a paciência e a resiliência
de um perfeito predador.
E eu, que sabia o nome do jogo:
Lovebombing.
Já tinha lido, estudado, reconhecido.
Sabia os sinais…
Ah, os malditos sinais...
Mas você não veio com pressa.
Veio leve.
Manso.
Veio certo.
Falava baixo.
Olhava fundo.
Me ouvia demais pra ser mentira.
Cuidava demais pra ser engano.
Dizia que era diferente.
Que amaria devagar.
Que ficaria até doer.
E eu… quis acreditar.
Você não me apressou.
Esperou.
Como quem doma.
Como quem observa a presa
até ela confiar no chão em que pisa.
E eu…
que nunca fui de abrir portas,
entreguei as chaves.
Me abri.
Amei.
Achei que fosse amor.
Ah, como eu queria ter ouvido minha intuição!
Aquela voz que berrava e reverberava pelas minhas veias:
CORRE… CORRE…
Mas a mulher forte,
aquela que desconfia de carinho fácil,
entregou tudo.
Inteira.
Viva.
Crente.
Pra mim, era amor.
Pra você, só mais um jogo.
Uma fase vencida.
Um prêmio que perdeu a graça.
Você —
um profissional na arte de fingir amar.
E eu, achando que era a única,
mesmo sabendo que você fazia isso com todas.
Cartas.
Rosas.
Poemas…
A fórmula perfeita do mestre em manipular.
O manual completo do predador emocional.
Ah, um jogador profissional —
o mestre na arte de enganar.
E eu?
Aprendiz da dor.
Leiga.
Inocente.
Caí.
Me quebrei.
O pior não foi ter um amor que não deu certo.
O pior é a dúvida que rói os ossos:
Eu amei sozinha?
Teve alguma verdade no que me foi dito?
Talvez tudo tenha sido um jogo.
Não.
Nada foi real.
Foi apenas um jogo cruel
que me partiu em dúvidas.
Maldito lovebombing.
Me fez duvidar de mim, da minha luz,
da chance de alguém querer ficar.
Maldito lovebombing.
Só me deixou
caos,
medo,
choro...
Fui mais uma vítima cheia de marcas
na sua coleção de lovebombing.
Mas hoje…
essas marcas revelam o veneno.
Hoje, elas são sinal de resistência —
sobrevivente,
traumatizada
e calejada
de amores rasos.
E você?
Como todo predador,
segue na caça —
à procura da próxima vítima.
Pobre vítima...
Ela ainda não sabe.
Vai ser quebrada aos pedaços
e, mesmo assim,
vai chamar isso de amor.