Meus pés conhecem o chão gasto,
as curvas frias da rotina,
mas há caminhos no espaço
que só a alma determina.
Há um campo além do dia,
onde o tempo se desfaz,
um lugar feito de sonho
que meus passos não são capazes.
Desejei tocar a aurora
nas montanhas da memória,
mas o corpo, fiel à demora,
se curva à mesma história.
Há mares que não naveguei,
ruas que só imaginei,
e abraços que a vida, cruel,
nunca deixou que eu alcancei.
E mesmo assim, sigo andando,
com os olhos sempre distantes —
na esperança de um acaso,
de um desvio palpitante.
Pois embora o chão me prenda
e a realidade me leve,
meu coração ainda sonha
com os lugares onde não esteve.