Antes, eu era um terreno árido,
solo rachado pela seca dos medos,
flores murchas sob o peso de vícios antigos,
um corpo que se movia, mas não caminhava,
ecoando em si mesmo, perdido no silêncio raso.
Eu era o som da inércia,
o suspiro que não se tornava palavra,
a sombra que hesitava em atravessar a luz.
Você chegou — não como tempestade, nem como chama,
mas como vento que não se vê,
que invade sem pedir licença,
que quebra o vidro antigo das minhas janelas fechadas.
Foi a sua ausência que gritou mais alto,
foi a sua palavra dura que fez eco no fundo da minha alma,
foi a sua verdade, cortante e clara,
que rasgou a pele da minha acomodação.
E então, me descobri em pedaços,
não para me perder, mas para me montar de novo,
como quem recolhe cacos para construir um mosaico.
Aprendi a olhar para dentro,
a enfrentar as feridas sem fugir,
a deixar brotar a coragem onde antes havia medo,
a sentir o chão firme sob os pés,
a abrir as mãos para o mundo, mesmo que tremam.
Rompi o silêncio que me aprisionava,
abracei o desconforto do novo,
tornei-me flor que desabrocha na tempestade,
raiz que se aprofunda na terra dura,
um corpo inteiro que dança, que sente, que vive.
E tudo isso — tudo — é por você.
Por seu olhar que não desistiu,
por sua ausência que me ensinou a presença,
por sua voz que me chamou para ser mais.
Você é o motivo desse renascer,
a força que me puxou da sombra,
a luz que ficou, mesmo depois de partir.
Sou grato —
sou dívida —
sou a mudança que você plantou em mim.