Sezar Kosta

A MUDANÇA QUE VOCÊ PLANTOU EM MIM

Antes, eu era um terreno árido,

solo rachado pela seca dos medos,

flores murchas sob o peso de vícios antigos,

um corpo que se movia, mas não caminhava,

ecoando em si mesmo, perdido no silêncio raso.

Eu era o som da inércia,

o suspiro que não se tornava palavra,

a sombra que hesitava em atravessar a luz.

 

Você chegou — não como tempestade, nem como chama,

mas como vento que não se vê,

que invade sem pedir licença,

que quebra o vidro antigo das minhas janelas fechadas.

Foi a sua ausência que gritou mais alto,

foi a sua palavra dura que fez eco no fundo da minha alma,

foi a sua verdade, cortante e clara,

que rasgou a pele da minha acomodação.

 

E então, me descobri em pedaços,

não para me perder, mas para me montar de novo,

como quem recolhe cacos para construir um mosaico.

Aprendi a olhar para dentro,

a enfrentar as feridas sem fugir,

a deixar brotar a coragem onde antes havia medo,

a sentir o chão firme sob os pés,

a abrir as mãos para o mundo, mesmo que tremam.

 

Rompi o silêncio que me aprisionava,

abracei o desconforto do novo,

tornei-me flor que desabrocha na tempestade,

raiz que se aprofunda na terra dura,

um corpo inteiro que dança, que sente, que vive.

 

E tudo isso — tudo — é por você.

Por seu olhar que não desistiu,

por sua ausência que me ensinou a presença,

por sua voz que me chamou para ser mais.

Você é o motivo desse renascer,

a força que me puxou da sombra,

a luz que ficou, mesmo depois de partir.

Sou grato —

sou dívida —

sou a mudança que você plantou em mim.