Certas coisas compartilhadas se tornam sagradas.
Tão sagradas que não devem ser revividas, relembradas ou reprisadas.
Não se deve falar nelas, nem mesmo procurá-las.
Certas coisas quando vividas só trazem dor.
Nem mesmo as melhores partes das memórias
podem compensar aquela ausência... uma solidão...
certas coisas divididas devem continuar assim:
divididas e separadas na alma.
Esse algo dividido, esse algo compartilhado,
tem gosto de nem meu nem teu
Parece mais algo que me tiraram,
mas nunca ninguém me deu.
certos amores vividos devem ser para sempre esquecidos.
nunca mencionados,
principalmente diante de olhos perceptivos.
certas coisas devem ser para sempre esquecidas,
mas ainda assim persistem em voltar a memória...
um beijo, uma canção, uma árvore, o vento, a contradição...
e eu fico eternamente a dizer não,
a me dizer não,
a protestar e a me arrepender
de te querer, de ter que esquecer...
certas coisas compartilhadas
devem ser para sempre ocultadas.
ficar escondidas por trás dos olhos,
por trás do falso sorriso,
por trás do abraço que não te dou.
certas coisas compartilhadas,
se tornam muito mais que estilhaçadas,
e nunca devem ser remendadas.
Rasgadas é como devem permanecer.
Minha alma que nunca foi vista pela tua,
a boca sôfrega a beijar calada...
os dedos delicados a suavizar a ruga triste...
certos olhares de entendimento compartilhados,
se tornam segredos,
e nunca devem ser revelados.
não devem ser revividos,
não devem ser repensados,
mas antes de tudo,
não devem ser lamentados.