Outono cobre o céu com véu de ouro sagrado,
O sol se inclina manso, um gesto abençoado,
A brisa sopra leve, um canto desacelerado,
Tudo ao meu redor se torna sagrado.
Montanhas repousam serenas no véu da imensidão,
A igrejinha no alto silencia a solidão,
O mar, em paz, me oferece contemplação,
Espelho onde se deita a luz em oração.
Da janela do carro, Boa Viagem me atravessa,
O mundo se desfaz da pressa e da promessa,
As luzes da cidade, uma estrada indefessa,
Sonhos piscam distantes onde a alma começa.
Não sou quem dirige, sou quem em mim se ouve,
Cada curva revela o que meu peito move,
O tempo desacelera, o coração se comove,
Boa Viagem me embala, tudo se resolve.
O mar sussurra o que a razão não traduz,
Segredos dissolvidos na penumbra da luz,
Há beleza em ficar, há coragem em partir,
Paz no instante onde escolho apenas existir.