Julião Augusto Ussore

O tempo e água

 

 

O Búzi serpenteia sob o sol ardente,  

Carregando segredos na corrente.  

— Água que banha raízes de mapuji,  

Testemunha muda do que fui.  

 

As crianças cantam na chuva caindo:  

‘Mu-te-te-ru-we! Vhura ngayine’— o mundo renovando.  

Pés descalços pisam a terra molhada,  

Histórias ancestrais em cada gargalhada.  

 

Corpos que dançam em noite estrelada:  

‘Kutamba, unotamba?’ — alma libertada.  

Os tambores falam línguas antigas,  

Nascer, viver, morrer — geometrias mágicas.  

 

Velhos sussurram ao fogo crepitante:  

‘O rio não esquece seu caminho adiante.’

E enquanto as estrelas descem ao chão,  

O Ndawu tece sua eterna canção.  

 

Julião da Elisa