joaquim cesario de mello

O MEDO DAS COISAS MORTAS

 

Levantou-se para o dia

feito uma alavanca que levanta o mundo

deixando na cama a noite ainda dormindo

 

Olhou pela janela agora aberta

o organizar da nova paisagem

na cidade em que sempre viveu

 

Preparou-se com esmero

ajeitando os detalhes

com o harmonizar das cores

 

Benzeu-se com o sinal da cruz

como há muito a mãe lhe ensinara

e no abrir das portas saiu do refúgio

 

No cenário abrolhado das ruas

misturou-se ao bailar das pernas apressadas

desaparecendo no dobrar das esquinas

 

As coisas inertes da casa

aguardam solitárias e caladas

o incerto regressar do dono

para que possam voltar à vida