não quero essa porra de vida.
não mais.
só quero afundar, sumir.
ficar deitado nessa lama imunda onde tudo fede,
onde até respirar machuca.
eu sou o lixo que ninguém quis limpar,
sou o vômito na calçada depois da festa,
a ferida que apodrece em silêncio,
uma faca cravada que ninguém tem coragem de puxar.
minha centelha?
já foi.
cuspiu de volta esse mundo nojento,
esse bando de gente fria, morta por dentro,
que se alimenta da dor dos outros como se fosse almoço de domingo.
sou o gozo das cobras,
a carne apodrecendo que atrai mosca.
sou o que apodrece sem nome, sem rosto,
e ainda assim respiro. por quê?
não tem redenção.
não tem recomeço.
só o escarro seco da existência,
a merda quente que gruda na alma.
e eu?
eu abraço isso.
me deixo afundar com gosto.
porque é tudo o que sobrou.
essa é minha resposta final:
ser o resto,
o que sobra,
o excremento esquecido num mundo que nunca me quis.