Acordo e já me despeço do sonho,
daquela calma que só dormindo vem.
Me levantando num quarto meio tristonho,
onde até o silêncio me quer bem,
e o espelho finge que sou alguém.
Despeço do café que aquece um pouco,
do cheiro que dura só um instante.
Das palavras ditas num ritmo louco
pra ninguém — e sigo adiante,
no meu dia ausente, flutuante.
A rua também me diz adeus
com rostos que passam, e não ficam.
Me despeço dos olhares sem seus brilhos,
das promessas que se descomplicam
antes mesmo de serem meus.
A tarde leva o pouco que sobrou,
e até o sol vai me deixando.
Cada gesto que o tempo apagou
é um adeus que sigo acumulando,
sem ninguém pra estar esperando.
Quando a noite deita ao meu lado,
me despeço da luz, da vontade.
Me enrolo num sono apertado,
feito abraço de saudade...
e tudo em mim vira só:
mais uma despedida de verdade.
3 jul 2025 (11:05)