joaquim cesario de mello

O CÉU SENIL DAS PALAVRAS

 

No final da tarde

onde os horários diurnos começam a murchar

do outro lado da calçada vi passar

uma palavra velha envergada pelo peso

dos anos que não existem mais

 

Imersa em sua velhice

a palavra agora desusada dos verbos

caminhava trôpega e devagar por entre

bocas e ouvidos que não lhe davam atenção

resignada frente ao menosprezo dos olhares

 

Uma palavra assim tão desprezada

esquecida, largada e ignorada

não devia andar por aí sozinha

vagando em meio a um mundo

que hoje não lhe pertence mais

 

Tenho pena das palavras obsoletas

embora elas saibam de sua caducidade

seu tempo de jovem lhe parece recente demais

 

Para onde vão as palavras senis

que os dicionários das ruas não querem mais?

Será que o céu que as espera

tem o mesmo cheiro poeirento e mofado

das livrarias de sebo da época do meu pai?