No final da tarde
onde os horários diurnos começam a murchar
do outro lado da calçada vi passar
uma palavra velha envergada pelo peso
dos anos que não existem mais
Imersa em sua velhice
a palavra agora desusada dos verbos
caminhava trôpega e devagar por entre
bocas e ouvidos que não lhe davam atenção
resignada frente ao menosprezo dos olhares
Uma palavra assim tão desprezada
esquecida, largada e ignorada
não devia andar por aí sozinha
vagando em meio a um mundo
que hoje não lhe pertence mais
Tenho pena das palavras obsoletas
embora elas saibam de sua caducidade
seu tempo de jovem lhe parece recente demais
Para onde vão as palavras senis
que os dicionários das ruas não querem mais?
Será que o céu que as espera
tem o mesmo cheiro poeirento e mofado
das livrarias de sebo da época do meu pai?