Anna Gonçalves

49 anos

Você ergue o lamento como um troféu,  

mas foi sua mão que cavou  o buraco no chão.  

Veste a dor e ressentimentos como um traje nobre,  

mas é o soldador metalúrgico do próprio cárcere.  

 

Sua \"generosidade\" por fora é um gasto  

por trás, as suas ambições  

que você engole como veneno,  

                           [ e me cobra sem nenhum alento] 

e me cospe em forma de inveja.  

 

Não fui eu que desenhei  

as grades que você chama de destino.  

Seu sacrifício todo é mentira  

você só teme o peso da sua própria sombra.  

 

Quarenta e nove anos são espinhos  

colhidos no jardim que você plantou.  

                     [ E mesmo assim, a pior coisa a se colher é a frustração de não ter colhido nada]

O seu orgulho, um carrasco silencioso,  

o fracasso, um fantasma que você alimenta.  

 

A culpa não é do mundo, não sou eu,  

                                  [ nem o meu nascimento, do seu sangue correr em meu corpo por inteiro]

não é do tempo, não é da sorte.  

É do seu medo, da paralisia pura,  

que insiste em chamar de vida  

o que é apenas a sua própria renúncia e covardia.