às vezes ela chega sem dizer nada,
senta comigo na beira da cama,
não grita, não chora — só fica ali
me olhando com olhos que sabem demais.
ela veste silêncio, tem cheiro de ontem
e toca meu ombro com mãos frias,
como quem diz: \"a vida cansa, né?\"
e eu só balanço a cabeça.
não precisa de muito pra ficar —
uma lembrança, um nome, uma foto torta
e pronto, ela já arruma um canto em mim
como se fosse dona da casa.
tem dias em que eu tento fugir,
mas ela vem devagar, sem pressa,
me encontra em cada suspiro preso
e diz que é só por um tempo indeterminado.
não é má, nem boa — só é.
e às vezes, ser já pesa demais.
mas mesmo quando ela parte,
deixa um pouco dela nos cantos.