você chega com o peito em pé
todo mundo te olha
eu abaixo o olhar e
meu corpo se encolhe
você tem esse ar
de quem nasceu sabendo
que o mundo vai te servir uma taça
antes de te perguntar se quer vinho
eu sou só
o cara que ri alto demais
pra esconder o medo de
não ter graça
já tentei me vestir do teu tamanho
mas tudo em mim escorrega
fico pequeno perto das tuas palavras afiadas
fico mole perto da tua postura reta
fico fraco perto de você inteira
te admiro com raiva
te desejo com culpa
sou apaixonado como
quem engole caco de vidro achando
que é gelo
mas aí
você tira a roupa
e de repente
a balança quebra
o palco some
as máscaras caem
na cama
você não tem crachá
não tem biografia
não tem plateia
só tem pele e urgência
só tem gozo e carne
ali
eu sou teu igual
ou melhor
sou teu dono por um segundo
enquanto você geme meu nome
como se eu fosse o único homem vivo
e eu gosto disso
porque por um momento
a imperatriz desce do trono
e fode como súdita
mas quando acaba
você levanta
limpa a boca
e volta a ser império
enquanto eu
volto a ser o que sempre fui:
a ruína que quis te abrigar