Às vezes,
quando o dia não pesa tanto,
eu quase acredito no depois.
E é um quase tão doce…
feito cheiro de terra molhada depois da seca,
feito aquela luz tímida
que atravessa o quarto sem pedir licença —
só vem, e fica.
Não é euforia, é semente.
uma semente pequena,
discreta, mas viva.
Há algo novo respirando aqui dentro.
um silêncio menos cortante,
um cansaço que, enfim,
não quer desistir.
e mesmo que o corpo ainda tema,
há uma parte que, em segredo,
ensina os ossos a ficar,
e mantém o sangue circulando.
Não sei o nome disso,
mas gosto da forma como acalma o peito.
como se, por um instante só,
viver não doesse tanto.
Seria isso…o começo?
ou só mais um suspiro
antes da queda?