Eu passo a noite vendo vídeos,
e pelo dia eu procrastino.
Se preciso estudar, eu adio;
se preciso escrever, desvio.
Talvez eu não esteja bem.
Admito, no espelho só sinto desdém.
Assistir a alguém me traz um fio
da sensação de ser ninguém.
Crio problemas que só existiram no além
pra atormentar um eu que nem surgiu.
Arranho o passado só do que convém,
lamentando o agora que meu olho nem viu.
Dizem que reconhecer é o primeiro passo.
E pode ser que isso seja plausível.
Reconhecer não torna fácil: ainda vai ser difícil.
Mas de olhos fechados, os pés tropeçam no invisível.
E quando eu abro os olhos, eu sei.
E saber
é o que torna possível.