Luana Santahelena

Manual para Sobreviver ao Amor

Menina,

 

dizem que o tempo costura,

mas a pele não conta

os silêncios do osso,

nem o fio solto

do gesto que corta

feito faca cega.

 

Viro panela esquecida no fogo,

guardo segredo no fundo,

faço promessa pra santo

de nome esquecido,

e sigo —

piso leve, quase vento,

abro a janela só de siso,

pra entrar o cheiro bom da rua.

 

Quero amor sem pressa,

olho que me ache bonita

nos dias de sombra.

E se tropeço,

é que aprendi a pisar macio,

sem acordar as mágoas

que dormem embaixo da cama.

 

Sou mulher remendada,

mas inteira,

bordada de esperança:

um dia,

quem sabe,

a vida me faz cafuné

no silêncio do quarto.