Menina,
dizem que o tempo costura,
mas a pele não conta
os silêncios do osso,
nem o fio solto
do gesto que corta
feito faca cega.
Viro panela esquecida no fogo,
guardo segredo no fundo,
faço promessa pra santo
de nome esquecido,
e sigo —
piso leve, quase vento,
abro a janela só de siso,
pra entrar o cheiro bom da rua.
Quero amor sem pressa,
olho que me ache bonita
nos dias de sombra.
E se tropeço,
é que aprendi a pisar macio,
sem acordar as mágoas
que dormem embaixo da cama.
Sou mulher remendada,
mas inteira,
bordada de esperança:
um dia,
quem sabe,
a vida me faz cafuné
no silêncio do quarto.