Sezar Kosta

SEMENTES NO BOLSO

Não guarde pedras —

elas pesam nos passos,

ensinam tropeços,

repetem silêncios.

 

Guarde, se puder, sementes:

miúdas, tímidas,

repletas de promessas invisíveis.

Sementes cabem no bolso e no silêncio,

germinam na sombra,

desabrocham no riso inesperado.

 

A alma é terra, não cofre.

Não vale a pena colecionar mágoas —

essas pedras frias que apertam a mão

e não aquecem ninguém.

Deixe-as partir:

tudo o que não dança à luz,

tudo o que não cabe no peito aberto.

 

Abrace o novo:

o instante leve que voa

antes do nome,

a palavra que se oferece sem pedir,

o gesto que existe só para ser.

 

O tempo é breve —

um fôlego,

um sussurro,

uma canção que termina

antes que a letra faça morada.

 

Seja sol no dia de alguém —

não por costume,

mas porque é mais simples,

mais bonito,

mais verdadeiro.

 

Viver é carregar sementes no bolso:

saber que o melhor brota

de surpresa,

de repente,

num sorriso que ninguém esperava.