Não guarde pedras —
elas pesam nos passos,
ensinam tropeços,
repetem silêncios.
Guarde, se puder, sementes:
miúdas, tímidas,
repletas de promessas invisíveis.
Sementes cabem no bolso e no silêncio,
germinam na sombra,
desabrocham no riso inesperado.
A alma é terra, não cofre.
Não vale a pena colecionar mágoas —
essas pedras frias que apertam a mão
e não aquecem ninguém.
Deixe-as partir:
tudo o que não dança à luz,
tudo o que não cabe no peito aberto.
Abrace o novo:
o instante leve que voa
antes do nome,
a palavra que se oferece sem pedir,
o gesto que existe só para ser.
O tempo é breve —
um fôlego,
um sussurro,
uma canção que termina
antes que a letra faça morada.
Seja sol no dia de alguém —
não por costume,
mas porque é mais simples,
mais bonito,
mais verdadeiro.
Viver é carregar sementes no bolso:
saber que o melhor brota
de surpresa,
de repente,
num sorriso que ninguém esperava.