Hoje eu tomei café mais devagar,
olhei pela janela um pouco mais tempo,
vi o vizinho brigando com o cachorro
e a senhora da esquina molhando as plantas com um balde velho.
O pão tava murcho, como ontem,
mas eu comi assim mesmo,
como quem mastiga lembranças.
Abri o armário e encontrei
aquela camisa que tu dizia que me deixava bonito.
Usei ela, mesmo estando apertada,
só pra te sentir perto enquanto andava pelos cômodos
em silêncio.
Deixei a TV ligada,
não porque eu tava assistindo,
mas porque o barulho disfarça o vazio.
No meio da novela, me lembrei
de quando a gente ria das propagandas —
hoje só olhei, calado.
Molhei as plantas,
recolhi a roupa seca,
li umas mensagens antigas no celular,
respirei fundo umas vinte vezes...
e nem assim passou a angústia.
A verdade é que eu tô cansado,
e não é um cansaço que se resolve com sono.
É um cansaço de dentro,
de continuar fingindo que tá tudo bem,
quando já não tá faz tempo.
Eu só queria te dizer,
do jeito mais simples que eu conseguir:
amei viver, amei sentir, amei amar.
Mas agora,
eu preciso me despedir...
da vida.
25 jun 2025 (13:48)