(Para quem fez do rio instante e presença.)
Talvez a água não queira espelhar,
mas apagar a linha entre pele e ar.
Talvez o céu se dissolva no toque,
e o toque se alongue sem querer voltar.
Talvez o corpo nem queira caber,
só se entregar ao vai e vem do sumir.
Talvez a curva esconda o segredo
que a luz acende no ato de partir.
Talvez a árvore retenha no galho
o exato segundo em que o tempo escapa.
Talvez o vento desenhe no ombro
o que só a pele em silêncio decifra.
Talvez ela seja o que quase se diz:
um gesto que o próprio rio repete.
Talvez beleza dispense espelhos
e prefira lugares onde o mundo adormece.