simone carvalho dos Santos

\"Nossa lei\"

 

As leis se dobram como véus,

Sobre os olhos de quem cala...

Enquanto o grito do justo ecoa

Num tribunal que não fala.

 

Prometem justiça às claras...

Mas operam na penumbra do texto.

Onde há norma, há exceção...

Onde há réu pobre, há pretexto.

 

O tempo da lei é cego e mudo...

Caminha lento, ou se arrasta...

Mas corre, se for conveniente,

Na pele do fraco, a espada gasta.

 

Brechas? Não são descuidos.

São passagens cuidadosamente esculpidas,

Por mãos que escrevem a norma...

E apagam as feridas.

 

O interrogatório, tardio ou não,

É só o espelho do que se quer mostrar.

Mas nos bastidores do processo,

A verdade aprende a se calar.

 

E eu, que estudei cada artigo,

Vejo o silêncio como sentença...

Pois não é a lei que falta,

É a justiça… e sua presença.