Luana Santahelena

O Caos é Meu Lar

Acordo quando o sol ainda sonha,

meu cabelo — bandeira indômita —

dança sem pedir licença,

como eu.

A casa exala um resto de sonho,

café esquecido,

louça sussurrando histórias

que só quem não cabe nas formas escuta.

 

Não me disfarço em roupas alheias:

visto memórias,

tecidos que guardam cicatrizes,

costuras de tempo.

 

O espelho, cúmplice antigo,

não me acusa;

devolve um olhar inteiro,

mesmo feito de fragmentos,

mesmo tecido em remendos.

 

Carrego a coragem quieta,

que não precisa de alarde,

anda comigo —

descalça,

ou de salto torto,

mas nunca vacila.

 

Unhas descascadas denunciam

pequenas guerras vencidas,

vitórias miúdas,

sorrisos guardados

no bolso da rotina.

 

Há beleza no torto,

no que escapa à moldura,

no real que pulsa,

no caos que abraça.

 

Sigo, mesmo quando o dia desafina,

cabelo em desordem,

batom pela metade —

porque aprendi:

o caos é lar,

e ser verdadeira

é urgência.