No silêncio do outono, folhas secas dançam —
rios de ouro que se entregam ao abraço do vento,
como quem se desprende do peso do tempo,
desafiando a gravidade, a inércia e o medo.
Antônio, ancião de olhar profundo, decifrava
nessa dança a ousadia da vida: o ato de soltar-se.
Ele falava ao jovem atado pelo receio,
que a pior prisão é nunca ter experimentado o voo.
Como pombos famintos a rasgar o céu cinza,
os que ousam voar ganham o banquete da existência,
enquanto os que arrastam passos na poeira,
perdem a luz que nasce do risco e da queda.
A dor da derrota é um sussurro que germina,
raiz invisível que rompe o solo,
alimentando o renascer das manhãs,
a glória que floresce das cicatrizes do salto.
A vida é um labirinto tecido de incertezas,
onde a essência humana se revela não na pureza da pele,
mas nas marcas de quem mergulhou fundo,
nas vozes dos que escutaram o vento e se entregaram.
Ser folha ao vento é aceitar a dança do acaso,
não ser pedra imóvel, petrificada pelo medo —
é aprender que o caminho se desenha em cada queda,
e que a liberdade nasce no instante do soltar-se.
No último sopro do outono,
a vida ecoa em folhas que não temem o vazio —
pois só quem se lança ao vento conhece o sabor do céu.