Sezar Kosta

O CAMINHO QUE SE DESENHA EM CADA QUEDA

No silêncio do outono, folhas secas dançam —

rios de ouro que se entregam ao abraço do vento,

como quem se desprende do peso do tempo,

desafiando a gravidade, a inércia e o medo.

 

Antônio, ancião de olhar profundo, decifrava

nessa dança a ousadia da vida: o ato de soltar-se.

Ele falava ao jovem atado pelo receio,

que a pior prisão é nunca ter experimentado o voo.

 

Como pombos famintos a rasgar o céu cinza,

os que ousam voar ganham o banquete da existência,

enquanto os que arrastam passos na poeira,

perdem a luz que nasce do risco e da queda.

 

A dor da derrota é um sussurro que germina,

raiz invisível que rompe o solo,

alimentando o renascer das manhãs,

a glória que floresce das cicatrizes do salto.

 

A vida é um labirinto tecido de incertezas,

onde a essência humana se revela não na pureza da pele,

mas nas marcas de quem mergulhou fundo,

nas vozes dos que escutaram o vento e se entregaram.

 

Ser folha ao vento é aceitar a dança do acaso,

não ser pedra imóvel, petrificada pelo medo —

é aprender que o caminho se desenha em cada queda,

e que a liberdade nasce no instante do soltar-se.

 

No último sopro do outono,

a vida ecoa em folhas que não temem o vazio —

pois só quem se lança ao vento conhece o sabor do céu.