opoetatardio

Saudade do Jardim

Carrego no peito
resquícios de um santuário antigo,
um estalar de folhas sob os pés —
lugar que nunca pisei, mas sinto.

Em meus sonhos,
de lá vem um silêncio que me chama ao longe,
como se o vento soubesse meu nome
antes do começo de tudo.

Então me pego em agonia — não de dor,
mas de um anseio por um recanto de amor,
onde a brisa acalma
e o aroma da paz repousa no chão.

Algo em mim quer retornar a esse lugar
assim que eu me despertar
e souber caminhar
para onde nunca estive,
mas não esqueci o caminho.

Onde o orvalho ainda beija as folhas,
criaturas reconhecem a voz do Criador,
e as feras não ferem.
E eu — feito de barro e falta —
falta-me este lugar encontrar.

Neste espaço e tempo,
descrito por pergaminhos antigos,
escritos entre o início e a promessa,
meu olhar repousa no Novo,
Naquele que pode me guiar para lá.

No fundo sei,
quando mergulho no silêncio,
que não é só sonho.

É saudade gravada no espírito,
vestígio do Sopro,
o infinito sussurrando
no presente,
um reflexo do passado
com sabor de eternidade.

Quando acordo,
a dúvida não é mais roupa que me sirva.
Quero meu regresso
ao mais perfeito Jardim,
e não quero só pra mim.

?? @opoetatardio — Pedro Trajano
opoetatardio.blogspot.com