Num salão onde o riso ecoa,
copos tilintam, vozes voam —
ela sorri, por educação,
mas vive longe da estação.
A música dança em volta dela,
mas a alma é outra novela.
Olhar perdido, corpo presente,
coração fora, ausente, ausente.
Os outros brindam, falam alto,
fazem da noite um grande salto.
Mas dentro dela — só ruído,
um labirinto mal contido.
Ela ensaia um riso inteiro,
mais falso que o lampejo no espelho.
Cada piada é uma punhalada,
em pensamentos que não dizem nada.
Porque o que a mente traz, é espinho:
um medo surdo, um velho vizinho.
Preocupações que a despedaçam,
enquanto os outros só aplaudem, passam.
E quando enfim se deita só,
sem máscaras, sem o “tudo é melhor”,
vem a cabeça, cruel senhora,
que devora, devora, devora.
Os risos se vão, fica o vazio,
o peito gélido, sem cio.
E o sono foge, sem perdão —
pois a paz… não habita em seu colchão.