Caminho pelas ruas de outrora,
calçadas gastas, bancos vazios,
onde o riso ainda ecoa,
entre as sombras das tardes preguiçosas.
O café da esquina guarda segredos —
vozes que se perderam entre goles,
olhares que agora habitam só a memória,
e a brisa parece sussurrar seus nomes.
Cada esquina é um retrato antigo,
um quadro desbotado pelo sol e pela chuva,
onde caminhar era partilhar histórias,
e o tempo parecia ter outro ritmo, mais lento.
As portas fechadas guardam silêncios,
os passos se repetem, mas não são os mesmos,
e a saudade se espalha, como fumaça leve,
envolvendo as ruas, os rostos, as horas.
Pessoas que foram faróis em noites escuras,
amigos, amores, companheiros do instante,
hoje vivem em fotografias e lembranças,
presenças invisíveis que o tempo não apaga.
E eu, passante entre memórias,
busco nos detalhes — um cheiro, um som,
um gesto antigo que volte a iluminar
a casa onde a alma um dia se fez inteira.
Saudade é um jardim que floresce no cotidiano,
um convite a olhar para trás sem medo,
a reconhecer que, mesmo ausentes,
os que amamos ainda caminham conosco.