Sezar Kosta

RUAS DO TEMPO

Caminho pelas ruas de outrora,

calçadas gastas, bancos vazios,

onde o riso ainda ecoa,

entre as sombras das tardes preguiçosas.

 

O café da esquina guarda segredos —

vozes que se perderam entre goles,

olhares que agora habitam só a memória,

e a brisa parece sussurrar seus nomes.

 

Cada esquina é um retrato antigo,

um quadro desbotado pelo sol e pela chuva,

onde caminhar era partilhar histórias,

e o tempo parecia ter outro ritmo, mais lento.

 

As portas fechadas guardam silêncios,

os passos se repetem, mas não são os mesmos,

e a saudade se espalha, como fumaça leve,

envolvendo as ruas, os rostos, as horas.

 

Pessoas que foram faróis em noites escuras,

amigos, amores, companheiros do instante,

hoje vivem em fotografias e lembranças,

presenças invisíveis que o tempo não apaga.

 

E eu, passante entre memórias,

busco nos detalhes — um cheiro, um som,

um gesto antigo que volte a iluminar

a casa onde a alma um dia se fez inteira.

 

Saudade é um jardim que floresce no cotidiano,

um convite a olhar para trás sem medo,

a reconhecer que, mesmo ausentes,

os que amamos ainda caminham conosco.