Nascer, crescer
e perceber
que se vive num eterno estado
de copo meio cheio:
Não ser o mais bonito,
nem o mais brilhante.
Não possuir talento,
não saber tocar nenhum instrumento,
não se destacar em nada.
Uma sombra entre outras,
sem reconhecimento,
por não possuir nada
que deva realmente ser reconhecido.
Apenas existir —
uma pessoa comum,
mediana, talvez.
Uma vida pacata,
quase tediosa.
Acordar, trabalhar, dormir num ciclo sem fim.
Às vezes se distrair
com o estado do copo meio cheio.
Sobreviver basta?
Simplesmente não ser,
e ainda assim ser,
pelo simples ou complexo fato de existir.
Ser uma poeira
dentro de outra maior que flutua na vastidão do universo.
Com uma única certeza:
que, um dia,
deixará de ser —
em todos os sentidos.