Desde tenros tempos o homem
Inveja os pássaros ao imaginar o bem
Que deva ser desfrutar o poder
De asas, às costas Deus prover
E, com isso, plainar de costas
Ao ponto de início ou às estrelas
Mas o homem só teve a sorte
De lançar voos a sons a seu norte
Contrariado, o homem, ao ar, mais de vez
Tentou voar e morro abaixo tornou-se freguês
Até que na décima quarta tentativa
Fez-se possível uma máquina altiva
Após estudos pra torná-la leve
Tão leve como do gelo pra neve
À luz, em cesariano, a ciência
Concedeu aeródino. Sua existência
É pular atalhos de tempos e espaços
Em asfalto cujos ventos - únicos buracos
De baixo pra cima, parecem plumas de algodão
aqueles rastros que contaminam até nossa visão
Voando sobre o chão todos são mesma família
Dão-se as mãos, em oração, quando sós na ilha
Na frente, os pilotos. Atrás, os outros
No comando, robôs. Em gentes, os medos
Nas cabines, pilotos e programas
Em primeiras classes, ogros e famas
Vão também, porém mais presos, defuntos e animais
Junto a bagagens. Tem comidas e assuntos sem sais
Lágrimas e sonhos duelam caricaturas em rosto
Truste, cartel e holding às escuras. Bagagens a esmo
Eita coisa boa, com ou sem turbulências
Os banheiros, com casais, tremem mais
Equipe a bordo, nem tudo são maquiagens
Pilotos retocam cansaços nas nuvens
E falam sempre algo seguro em inglês:
- Toda vez, toda vez, toda vez...
Pra subir, esquemas, motores e experiências
Pra cair, problemas, vetores e turbulências
A verdade é que o homem
Se cair, nunca imagina o bem
Logo, toda vez que, pela lei física, levanta
Rei e plebeu dão conta que nada na vida adianta
Não dá marcha a ré, nem pode pular
Lá em cima, só a Fé e o desejo de ficar
Aeronave é bicho que beija a gravidade
Impulso fixo onde rasteja a vaidade
Enfadonho sonífero do homem – ambicionar o céu
Contrapõe o sonho infantil - pilotar aviões de papel
Somos, desde cedo, vulneráveis, sim, à passagem
Sabemos o começo e tememos o fim da viagem