MAKSNOMAX

AbominĂ¡vel homem das canetas: segundo ato

Me finjo de bem por fora

Mas as vezes ainda sinto que não tenho vida

A poesia foi minha única saída

Tão morta, tão melancólica

Mas mesmo assim tão viva

Que se não fosse por ela eu já estaria lá em cima

É...

Ser poeta é ser foda

Mas não é foda ser poeta

A não ser que seja do assunto que os interessa

E quando finalmente você se expressa

Assina o testamento dedicando tudo a quem quer ver você na merda

E eu sinto culpa por ser branco

Fazendo rap sobre racismo

Mesmo esse sistema não esteja de mal comigo

Não me confundem com bandido

Não me matam sem sentido

Me tratam como um, mesmo sabendo que não sou santo

Não existem privilégios culturais na minha cor

Sou apenas parte de um passado escravocrata de dor

Me provoca ardor

Na garganta toda vez que me lembro que quem canta o que eu canto não é reconhecido como cantor

Só por ser preto

Purificou minha alma

Me utilizo da falta dela

Enquanto minha mina fala:

\"Calma amor\"

Mas se eu for um pouco mais calmo

Eu aponto a arma na cabeça e atiro antes de terminar esse terror

 

Penso se pensar fará eu morrer cedo

Hoje em dia me cansa até ficar de joelhos

Sim, tenho que partir pro apelo

É que uma lágrima só banha bem mais que o chuveiro

É foda que a rima boa só chegue

Quando a sanidade se esvai

E o que mais assusta é falar o bye

Estou limpando minhas feridas com sais

E pareço um velho:

\"Porra eu só quero paz!\"

 

Meu querido avô

Obrigado pelo teclado

Que inclusive uso muito nos meus desabafos com rima

E quando você estiver lá em cima, diga que eu não fiz por mal

Sei que você

Ainda tem vida

Mas sinceramente

Você já virou estatísticas

Penso se também terei Parkinson

Tomara que não seja de família

Obrigado por me apresentar a música

Agora sou um artista

Não era o que você precisava

Mas era o que você queria

E eu queria ter passado mais tempo com você

Quando eu era bebê, brincávamos pra valer

E hoje você só brinca de ir da cozinha pro quarto da TV

Antes o que era o olhar firme

Virou o corpo a tremer

Quem dera eu pudesse voltar no tempo

Viver aquilo tudo, de novo

Muito egoísmo da minha parte, eu admito

E hoje você mal corre

Está gordo

Guardarei você junto as almas que guardo junto a minha

Sou o próprio purgatório ambulante

Não sabia?

Purifico as almas dos outros

Apodreça a minha

E de tão podre minha alma eu faço a porra dessas rimas