Um Ruivo qualquer

BOM DIA?

bom dia... bom dia?
hoje acordei.

E acordei duvidoso, talvez curioso em saber qual era a euforia de muitos dos homens.
Ontem, a sobra dos horários que me restaram foram atormentadas com badalos de um sino engravatado, com promessas e projetos cativantes.

Mas, de tantos desejos, meu corpo, naquele momento, precisava de apenas um; o de levantar.

No começo, precisava sair do conforto do meu travesseiro.
Mas, antes de ter um encontro com uma resposta, eu tinha que confrontar uma dúvida: entre seguir mais um sonho que ainda não se completaria ou parar de pensar em problemas que não eram meus.

Contudo, se eu escolhesse uma esquerda ou uma direita, no fim eu estaria dormindo de novo, para acordar numa mesma cama, com os mesmos lençóis.

Uma cama desarrumada onde quem disfarça os desajustes e a bagunça é a bandeira que chamo de cobertor.
Mas sua dissimulação não vinha por conta da sua cor, tampouco pelas histórias que ela passou no guarda-roupa, mas pela estampa que esbanjava uma tal ordem e progresso, caso fosse estirada por cima dos defeitos.

Também era escolhida fácil a sair do armário, por conta dos detalhes de uma pintada onça que um dia foi vívida o suficiente para ser referência.
Talvez seja por isso que a visita nunca reclamou da decência daquela cama. Nem mesmo das fronteiras entre a porta até o quarto mais branco do outro lado do corredor atlântico.

Mas, sem surpresas, elas sempre elogiavam a sala.
Talvez seja pelo poder do recinto, que faz trazer reuniões sem sentido, com palavras sarcásticas sobre a própria sociedade, cortando a esperança com uma língua autoritária de república de espada sem razão.

Já refleti muito nesse dia, e ainda não entendi por que se chamava de bom.

E, pensando como humano, eu não colaboro em mudá-los, pois assim deve continuar para servir como meu combustível de murmúrio inútil.

Infelizmente, me tornei vilão, pois meu tempo era curto e queria aproveitá-lo melhor que ontem.
Desta vez, não no badalar de um sino engravatado, mas nas desesperanças de um povo mal educado, que soam pior que os ding dongs de uma cátedra de indulgências.

Talvez isso seja uma conversa única pra uma sala, um discurso sem igual...

Aliás, minto, pois de certo que alguém faria isso novamente sem pensar. Mas como sou vilão, faria dentro de uma sala maior, com mais pessoas para assistir.
Faria isso com minha imagem crescendo, e chamaria essa sala de parlamento. Onde, no final, nada iria mudar, igual às conversas das visitas.

Mas quem sou eu?
Aliás, quem sou para julgar, se mesmo no pouco tempo que me deram, eu poderia ajudar. E escolhi me deitar.

E eu me deitei num sono de riquezas em meio ao escuro. Não me culpe por isso, pois houve voto em meu nome, e meu tempo é sujo e não puro.

E ainda não entendia por que chamavam o dia de bom...

Passou-se mais instantes e já não queria ser mais o vilão, pois havia muito peso.
Mesmo assim, murmuro e reclamo dessas pratas que chegaram até mim, pois algo em mim era insatisfeito. Algo que, sem brasas, já queimava como uma chama vil.

Talvez sejam as faíscas e os riscos que eu depositava entre meu Brasil.

E nada que me convencesse se o dia era bom.

Mas tenho certeza que essas são essas coisas que me fazem acordar tarde. Mesmo sem o relógio despertando, mesmo enquanto eu pensava em tudo isso andando. Percebi que analisar esse conflito era só meu primeiro passo.

E eu estava de mãos atadas, mas desta vez em outras almofadas.

Refletindo sobre a janela, admirei um céu alaranjado e percebi que não estava mais naquele quarto fechado.

Dei graças... e percebi finalmente algo de bom.

Percebi que fugi de minhas correntes, até na crítica,  entendi que poderia deixar as ideias mais frequentes, entre mim e minha nação.

Foi ali, finalmente, que percebi que o dia realmente era bom...

Lamento o contexto de nossas eras.

Lamento por esse mundo delinquente.

Mas Eva só iniciou as guerras por conta de uma política de serpentes.

— Luan Santos Marcelino