Sombra da Noite

Vinte e Três - Parte II

Aos vinte eu gritava com o mundo,

achando que era castigo viver.

Raiva era minha segunda pele,

e o amanhã, só mais um dever.

 

Eu xingava o tempo, o curso,

até o ventilador caiu.

\"Será um sinal?\", pensei chorando —

mas a vida nunca respondeu.

 

Hoje tenho vinte e três.

Não sei tudo, mas sei mais.

Não sou filósofa do quântico,

mas aprendi a viver em paz.

 

Fiquei com alguém, quem diria.

E não, não salvou meus dias,

mas teve riso, toque e gosto —

e uma bagunça que trás confusão.

 

Ainda critico o Brasil,

mas caminho sem tanto medo.

Não espero salvação de fora,

só quero o meu próprio enredo.

 

A menina que escreveu com raiva

ainda vive aqui, de algum jeito.

Mas agora ela sorri, de canto,

vendo que o tempo também é um feito.

 

E se o mundo ainda me pergunta

\"pra onde você vai afinal?\",

eu respiro e digo sem pressa:

não sei — mas hoje isso é normal.