Aos vinte eu gritava com o mundo,
achando que era castigo viver.
Raiva era minha segunda pele,
e o amanhã, só mais um dever.
Eu xingava o tempo, o curso,
até o ventilador caiu.
\"Será um sinal?\", pensei chorando —
mas a vida nunca respondeu.
Hoje tenho vinte e três.
Não sei tudo, mas sei mais.
Não sou filósofa do quântico,
mas aprendi a viver em paz.
Fiquei com alguém, quem diria.
E não, não salvou meus dias,
mas teve riso, toque e gosto —
e uma bagunça que trás confusão.
Ainda critico o Brasil,
mas caminho sem tanto medo.
Não espero salvação de fora,
só quero o meu próprio enredo.
A menina que escreveu com raiva
ainda vive aqui, de algum jeito.
Mas agora ela sorri, de canto,
vendo que o tempo também é um feito.
E se o mundo ainda me pergunta
\"pra onde você vai afinal?\",
eu respiro e digo sem pressa:
não sei — mas hoje isso é normal.