Daiane Brito

O tempo, a memória e a música

Quem sou eu, além de um eu-lírico que não sabe falar...

E se não são minhas palavras, a quem elas pertencem quando narram a minha própria existência? O que sou, senão um fragmento de sentimentos dispersos, costurados pelo tempo e pela memória? Caminho por entre ecos de pensamentos que não sei se são meus ou apenas reflexos de algo maior.

O vento carrega vozes que eu nunca disse, e ainda assim, elas me traduzem. A música sussurra verdades que não sei nomear, mas que me pertencem. Talvez seja assim que existimos—não pelo que declaramos, mas pelo que sentimos quando o mundo nos responde.

E música, que toca em um rádio invisível, ecoando sem parar em minha cabeça, dançando com o vento e toca o meu coração como se fosse cordas de um violão quebrado.

Então, perduro. Entre o silêncio e o som, entre o agora e o que já foi. Me descubro em cada nota que ecoa, em cada verso que, sem querer, revela o que eu não soube dizer.