Sezar Kosta

O AMOR ENTRE PRATOS E COBERTAS

Namorar é como descobrir um restaurante novo numa rua esquecida: a princípio, tudo é promessa e novidade, cardápios abertos e olhos curiosos. Depois de algumas visitas, você já sabe que o garçom vai trocar a sobremesa, mas, mesmo assim, volta.

Tem a fase em que você finge gostar de jazz, balançando a cabeça no ritmo do desconhecido, só para depois, num domingo qualquer, confessar que seu coração bate mesmo é no compasso do sertanejo. E, surpreendentemente, a pessoa fica. Porque o amor, quando é de verdade, é resistente ao ridículo.

Namorar é praticar o esporte radical de dividir a coberta em noites frias, é descobrir que o outro tem o pé gelado, uma estranha paixão por empilhar louça e opiniões políticas que desafiam a sua paciência.

Mas é também saber que existe alguém que ri da mesma piada idiota, que finge surpresa diante do presente comprado às pressas, e que transforma um domingo chuvoso e um filme ruim no melhor lugar do mundo.

A arte de namorar não está nas flores ou nos jantares à luz de velas: está na manutenção silenciosa, no esforço cotidiano de permanecer, de sorrir, de recomeçar.

Se você consegue atravessar tempestades pequenas – um café derramado, um mau humor passageiro, um silêncio incômodo – e ainda assim escolhe ficar, parabéns: você aprendeu que o amor se constrói nos detalhes, entre pratos trocados e cobertas divididas.