sou o murmúrio seco em areia de deserto
a onda que esvoaça e queima a céu aberto
sou a doçura que o medíocre desconhece
o imaginário da criança ao se por em prece
um sorriso de avô ao segurar um seu neto
sou dois metros de cura e um quilo de afeto
alguma medida de uma paixão desmedida
o cálice afastado e a bebida mais pedida
uma joia rara que o dinheiro não alcança
cada unha gasta no afã de coçar a pança
a TV desligada, cega, suja e maltrapilha
num mar de lama, de botas, sou como ilha
sou feito um cão comendo palavras no cio
uma bomba precoce, armada sem um pavio
eu sou a dor, o amor, a vida e a morte
a paixão, o desapego, a desgraça e a sorte
sou um caçador de olhos ávidos, no fundo
detonando pragas, remoendo o seu mundo
sou um passeio elíptico em seio convexo
e tudo que mais há no verso do meu verso
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 12/06/25 –