Havia um segredo no ar —
tão leve que só os distraídos escutam,
mas tão eterno que o tempo não ousa apagá-lo.
Ele sussurrava, em voz de vento,
que um dia eu tropeçaria em ti,
como quem encontra um botão esquecido
nas dobras invisíveis do universo.
Não foi destino de relógio,
nem roteiro de anjos com pranchetas.
Foi um acaso disfarçado,
vestido de acaso,
mas com olhos que carregavam a eternidade.
Eu, que nunca soube decifrar mapas,
fui guiado por linhas invisíveis,
aquelas que só os poetas enxergam
quando fecham os olhos e
abrem a alma para o mundo.
E assim cheguei em ti:
com as mãos cheias de pequenas esperas
e um susto de esperança tremendo nos bolsos.
Te reconheci na esquina
onde o riso e a dúvida se entrelaçam,
e entendi que certos encontros
são como xícaras esquecidas no parapeito:
esfriam devagar,
mas deixam seu perfume no ar
por toda a manhã.
Agora, desejo que o amor
não seja apenas um susto de verão,
nem o clarão breve das coisas que somem.
Quero que ele seja um instante infinito,
onde até o silêncio faz companhia
e a saudade é só um pássaro
adormecido nos fios do horizonte.
E se amanhã for apenas lembrança,
que seja dessas que iluminam os dias,
como estrelas cadentes
que a gente insiste em procurar
nos quintais da infância,
mesmo sabendo que brilham
apenas por um segundo.