Ester Araújo

Vestígios de Mim

Coleciono pistas do que sou,
nas entrelinhas de tudo que vivi.
Meus passos não são em vão —
deixo marcas, mesmo quando fujo de mim.

Carrego na mente o faro da verdade,
nos olhos, a sede de entender.
Mas no peito, ah… no peito,
mora o caos que ninguém consegue prever.

Já levantei cenas do crime do coração,
examinei cada fratura da alma.
Identifiquei culpas, suspeitas, perdão —
minha perícia? É sentir com calma.

Sou laudo inconcluso em noite sem fim,
sou caso arquivado que insiste em doer.
Mas também sou quem relê o próprio dossiê
e decide: “hoje vou florescer”.