Nelson Dias Neto

Na Forca

Julgado pela amada fidalguia,
O preso, pendurado porcamente,
Sorvia o seu sufoco, só, silente,
Enquanto o poviléu chorava e ria.
 
Sentindo que dali não passaria,
Olhou, ficando roxo, pro poente.
A Vida estava logo ali na frente,
Tão perto quão distante, quente e fria.
 
As últimas palavras do \"Maldito\",
Morreram, reprimidas, na garganta.
Quem sabe o que no fim teria dito?
 
O adágio que da tumba se levanta?
O chiste que não pode ser escrito?
O sumo da verdade sacrossanta?