Versos Discretos

Entre Cortinas e Pele

Na penumbra suave do quarto calado,
teu corpo se acende — lume moldado.
Luz escorre na curva do teu ventre,
como se o sol morasse entre teus contornos.

O tecido te beija, tímido e tenso,
como se temesse o toque imenso
do meu olhar faminto, clandestino,
que navega tua pele, sem destino.

Teu seio, um sussurro à flor da pele,
convoca a minha boca, a minha sede.
E o ventre, morada de promessas quentes,
me chama sem dizer, mas me conhece.

Os fios do teu cabelo, marés douradas,
caem como véus sobre madrugadas.
E ali, entre a porta e o espelho em silêncio,
te vejo — mulher, desejo, incêndio.

Te desvendo com a ponta da vontade,
num toque que é quase liberdade.
E o mundo, ali, se desfaz inteiro,
quando meu amor te toma por inteiro.