Isis P. Toldi

Paralisia cerebral

Meu corpo é um erro de código,
um comando falho na sinapse.
O impulso parte, mas não chega,
a mensagem se dissolve no nada.

E eu, estática, assisto ao mundo dançar,
enquanto meu próprio tempo falha.
Só de te olhar, o coração descompassa,
mas o corpo, imóvel, se nega a reagir.

Os mínimos detalhes? Eu percebi.
O único fio de cabelo molhado,
a hesitação breve no seu riso,
o micro-movimento do seu piscar
tão natural, tão inalcançável.

Queria te chamar pelo nome,
mas ele se perde na língua inerte.
Queria me mover na sua direção,
mas sou estátua diante da sua luz.
A mente ordena, o corpo nega,
um abismo entre querer e ser.

Dizem que a paralisia é a prisão do corpo,
mas e quando é a mente que se desfaz?
Quando a consciência é ágil, mas a ação tropeça,
quando o desejo pulsa e a carne não responde?

O tempo segue seu curso, indiferente,
você passa por mim, sem saber,
que no silêncio dos meus músculos trêmulos,
existe um grito que clama pelo seu nome.