joaquim cesario de mello

SIMULAÇÕES E SIMULACROS

 

Vou esconder as lágrimas

e mandar sorrisos  

encobrindo as feridas

com coloridos band aids

vestindo a melhor roupa

como se fosse antigos domingos

 

Vou falar palavras ordeiras e gentis

para simular o rebuliço que trago por dentro

e fastiar o tédio

amansar o cavalo

domar o leão

e encantar a serpente

soprando na flauta músicas que não entendo

 

Vou disfarçar o cansaço

mascarar a tristeza

amordaçar o medo

enxugar a sangria

sonegar a agonia

escurecer os cabelos grisalhos

e me fantasiar de pura euforia

 

No simulacro em que crio

vou viver enrustido e encolhido

entocado feito animal acuado

perseguido e assustado

apenas para parecer que tudo está bem

e que sou (quase) sempre animado e feliz