joaquim cesario de mello

POR ONDE PASSO

 

Por onde passo

ninguém me aplaude

alguns ensaiam vaias

outros nem me olham

e os dias seguem indiferentes

 

Por onde passo

deixo rastros

que logo serão apagados

pelo suor evaporado das ruas

pela brisa refrescante dos ventos

e pelo pisotear dos pés alheios que não seguem

 

Por onde passo

retiro pedaços de paisagens

que levo na algibeira esquerda da memória

onde guardo guimbas de cigarros fumados

resíduos dos minutos que ainda me sobraram

e o puído retrato em que estou nos braços da minha mãe

 

Por onde passo

somente eu faço meu caminho

tão microscópico e tão minúsculo

que o polvilhar das borras do tempo

haverá de entapetar e depois meramente encobrir