escrevendoo

Nada é Claro

Tem dias que eu acordo dentro de um sonho,
e outros em que nem sei se acordei.
O mundo me parece um teatro mudo,
e eu… uma atriz que já nem lembra por que ensaiei.

As coisas acontecem — ou eu invento?
Sinto, sofro, mas será que existiu?
A memória brinca de ser verdade,
e meu coração acredita, infantil.

Um filho.
Eu juro que senti o peso nos braços,
o amor rasgando o peito como luz.
Mas não havia ninguém no quarto.
Acordei só. Sempre só.
Como se o mundo tivesse dado delete no que fui.

E me pergunto:
Quantas de mim já morreram em silêncio?
Quantas palavras gritei e ninguém ouviu?
Quantas lágrimas foram só teatro
num palco que nunca aplaudiu?

Já fui a melhor — ou talvez só quis ser.
Agora me arrasto entre dias nublados,
como se viver fosse uma obrigação,
e sentir, uma falha nos dados.

Não sei mais nomear o que vivo.
Não sei mais confiar no que penso.
Só sei que dói, e que dói fundo,
como um eco no peito imenso.