Tem dias que a casa respira mais alto que eu,
o relógio fala demais,
e a luz da geladeira parece companhia.
Sento no canto onde costumava caber outro riso,
mas agora só cabe o peso
de lembrar.
A solidão não grita —
ela sussurra devagar,
como se quisesse morar
no fundo do peito
sem pagar aluguel.
Tem noites que converso com o vento,
ouço o que ele não diz
e respondo mesmo assim.
Mas também aprendi
que há beleza no vazio:
é lá que me escuto melhor,
sem pressa, sem filtro,
só eu —
e essa ausência que, de tão presente,
quase me faz companhia.
2 jun 2025 (14:33)