Era o número 670 da Rua Inácio...
Pra quem só via um portão verde velho com os muros gasto, pra mim era castelo... era a saudosa maloca encantada, onde o cimento abraçava mais do que muitos abraços.
Foi lá que o destino nos levou, depois que a vida \"despejou\" nossas esperanças do último aluguel.
Mas a rua Inácio nos recebeu com alma e coração, como quem já sabia que o amor morava onde a dor não repousava.
Como não lembrar?
Da vó sorrindo no portão, da minha mãe com o coração leve, por estar perto de quem lhe deu o nome e o norte.
Tios, primas, vizinhos, todos no mesmo quintal, partilhando o pouco em festas de Cosme e Damião, a felicidade e a ausência de preocupação se fazia presente naqueles momentos.
Ali, onde “só tinha como atração o bar e o candomblé pra se tomar a benção”, como diz na música,
a gente vivia o que o dinheiro nunca soube comprar.
Era música na vizinhança, era conselho na calçada, era abraço de verdade e comida dividida com alma.
E cada vez que passo por lá, meu coração bate no compasso daquelas \"taubas\" da maloca do Adoniran, que caíam do barraco, mas doíam no coração.
Porque a saudade, meu parceiro, não é tristeza, é só o eco bonito do que foi bom demais pra ser esquecido.
670…
era só um número pra quem nunca viveu lá, pra mim, é abrigo, é raiz, é poesia.
É prova viva de que lar é onde a gente foi guardado…
e principalmente muito amado.
E mesmo que o tempo tenha pintado outras cores naquele portão, mesmo que os muros contem histórias de outras vidas agora, o 670 continua existindo, dentro de mim.
Porque alguns endereços não são só lugares.
São eternidades disfarçadas de casa, e quando a saudade aperta, é lá que minha alma volta pra descansar.
Por Freddie Seixas