Metamorfose

O susto de merecer

eu quero sentir menos medo

das coisas que me pertencem,

mas que eu tremo só de tocar.

do amor que não parte,

das conquistas que não cobram,

das alegrias que não pedem licença.

 

me assusta conquistar

e não saber onde colocar.

me assusta ser escolhida

sem precisar correr.

 

há um lugar me esperando —

e eu paro na porta

com o velho hábito

de não entrar.

 

tenho medo do que é inteiro,

porque aprendi a viver com metades.

me acostumei com a espera,

e agora não sei o que fazer

quando é minha vez.

 

às vezes, paro diante do que sonhei

como se fosse engano.

fico sem jeito de ser feliz,

como se fosse demais.

 

quero merecer sem me justificar,

quero viver sem me encolher,

quero sorrir e não olhar pro lado

procurando o erro que ainda não veio.

 

quero, enfim, viver o que é pra mim

sem medo de perder,

sem medo de ficar,

sem medo de ser.