Morrer como indigente — dizem com terror,
como se a solidão fosse sentença de dor.
Mas e se a paz vier sem pompa ou flor,
num canto quieto, longe do clamor?
Não temo a ausência de nome em papel,
nem jazigo frio sem mármore ou anel.
O fim não se veste de ouro ou de véu,
ele é igual para o servo e para o coronel.
O medo? Não é meu.
Não me assusta a rua, o chão, o breu.
Mais vale a alma limpa do que um caixão cheio,
de lantejoulas vãs, de luxo alheio.
Viver com verdade — eis o meu intento,
se o mundo me esquecer, será esquecimento.
Mas não sou menos por partir ao relento,
sou vento também, sou só movimento.
Que importa a morte, se a vida foi semente?
Que importa o corpo, se a alma segue em frente?
Não temo morrer como indigente,
temo viver como ausente.