TainĂ¡ Lopes

Morrer como indigente.

 

 

Morrer como indigente — dizem com terror,

como se a solidão fosse sentença de dor.

Mas e se a paz vier sem pompa ou flor,

num canto quieto, longe do clamor?

 

Não temo a ausência de nome em papel,

nem jazigo frio sem mármore ou anel.

O fim não se veste de ouro ou de véu,

ele é igual para o servo e para o coronel.

 

O medo? Não é meu.

Não me assusta a rua, o chão, o breu.

Mais vale a alma limpa do que um caixão cheio,

de lantejoulas vãs, de luxo alheio.

 

Viver com verdade — eis o meu intento,

se o mundo me esquecer, será esquecimento.

Mas não sou menos por partir ao relento,

sou vento também, sou só movimento.

 

Que importa a morte, se a vida foi semente?

Que importa o corpo, se a alma segue em frente?

Não temo morrer como indigente,

temo viver como ausente.